Teatro do Estudante

Criado por Paschoal Carlos Magno, o Teatro do Estudante do Brasil tem seu ponto alto com a montagem de Hamlet, de William Shakespeare, em 1948, que coroa a iniciativa em prol de um teatro feito com qualidade artística.

Inaugurado em 1938, o Teatro do Estudante do Brasil – TEB, se dedica a montagens de grandes autores nacionais e estrangeiros – William Shakespeare, Gonçalves Dias, Sófocles, Henrik Ibsen, Martins Pena. O espetáculo de estréia, com direção de Itália Fausta, é Romeu e Julieta, que conta com o corpo de baile do Theatro Municipal e sua orquestra de cordas. Os críticos aplaudem desde o início a iniciativa de Paschoal Carlos Magno que, a médio prazo, promete deixar para trás os tempos da chamada Geração Trianon, formada exclusivamente pela prática, sem espírito de equipe, sem conhecimento da modernidade cênica. Romeu e Julieta recebe elogios tanto pela direção quanto pelos atores.

Em 1948, o TEB apresenta uma histórica montagem de Hamlet, dirigida por Hoffmann Harnisch, com uma composição realista do ator Sergio Cardoso, a primeira de que se tem notícia no teatro brasileiro. Em 1951, realiza uma turnê de dois meses e meio pelo norte do país representando gratuitamente, tanto em salas fechadas quanto em espaços abertos, um repertório de sete espetáculos. Trata-se de um trabalho de formação de atores e público, como também, da disseminação de uma dramaturgia diferenciada, com montagens de Édipo Rei e Antígone, de Sófocles; Hécuba, de Eurípides; Romeu e Julieta, de William Shakespeare; Os Espectros, de Henrik Ibsen; Autos, de Gil Vicente, e O Noviço, de Martins Pena. Esther Leão desempenha a função de ensaiadora durante a excursão.

Como grande incentivador da atividade teatral, Paschoal Carlos Magno cria o Teatro Duse no porão de sua casa, no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Pelo pequeno teatro de cem lugares, passa boa parte dos grupos de estudantes e amadores da época.

A realização de maior vulto do TEB é a formação de elencos para a apresentação de espetáculos em lugares públicos da cidade. Em 1953, Paschoal Carlos Magno consegue 15 caminhões e os transforma em teatros ambulantes, realizando 500 apresentações.

Paschoal Carlos Magno escreve sobre a criação do TEB: “Eu tinha chegado da Europa e via aqui a situação melancólica do teatro brasileiro, um teatro sem muita orientação técnica, representado por atores e atrizes sem a menor preparação. Digo melancólico, porque havia uma crescente ausência de público e um número cada vez maior de companhias que multiplicavam seus frágeis esforços, suas energias, sem encontrar eco por parte da platéia e da imprensa. (…) percebendo que nada se pode fazer nesse país sem o apoio dos estudantes, apesar da má vontade de algumas autoridades de ontem, de hoje e de sempre, percebendo que nada se pode fazer aqui sem a participação dos moços, (…) reuni, na casa de minha mãe, dezenas de jovens planejando criar o Teatro do Estudante do Brasil”.1

Notas

1. MAGNO, Paschoal Carlos. O teatro do estudante. Dionysos, Rio de Janeiro, n. 23, p. 3, 1978.